Aviões-robôs que enganam radares, munições inteligentes guiadas por GPS que atingem precisamente o alvo programado, bombas antitanque teleguiadas, informações transmitidas por satélite para indicar aos comandantes em campo a localização exata das próprias tropas e dos inimigos durante as batalhas – as Forças Armadas americanas exibiram toda essa tecnologia de ponta, e mais ainda, na conquista-relâmpago do Iraque. Nenhum outro país do planeta pode ser remotamente comparado à máquina de guerra dos Estados Unidos. É o melhor Exército que jamais existiu, tanto em termos absolutos quanto em comparação com os de outras nações. Melhor do que a Wehrmacht de 1940, melhor do que as legiões no auge do Império Romano. No futuro previsível, nenhum país vai sequer tentar chegar perto do poderio americano.
Essa constatação tem um significado importante: a corrida armamentista acabou, e quem ganhou foram os Estados Unidos. Outros países não se animam a reavivar a competição porque estão tão defasados que não teriam chance nem de entrar na briga. O fato é que a corrida armamentista entre as grandes potências, disputada durante séculos, chegou ao fim depois que o resto do mundo se curvou à vitória americana.
Neste momento, apenas um país dotado de armas nucleares, talvez a Coréia do Norte, tem condições de exercer algum tipo de pressão militar sobre o vencedor. Paradoxalmente, a fulminante vitória americana na corrida armamentista convencional pode provocar um novo surto de proliferação de armas nucleares. Sem nenhuma possibilidade de enfrentar os Estados Unidos na base do avião contra avião, aos países que buscam algum tipo de elemento dissuasório só restaria recorrer às armas atômicas.
Foi provavelmente devido à convicção de que não há como resistir ao poderio convencional americano que a Coréia do Norte anunciou duas semanas atrás que tem a bomba atômica. Caso o precedente se confirme, reforçando a impressão de que a Coréia do Norte se tornou imune a um ataque americano por contar com algum tipo de munição nuclear, outros países – e o Irã é um candidato óbvio – podem renovar os esforços destinados a obter esse tipo de armamento.
É impossível exagerar a superioridade militar americana. Durante a guerra ao Iraque, os Estados Unidos enviaram cinco de seus nove superporta-aviões para a região. Mais um deles, o décimo, está sendo construído. Nenhum outro país do planeta possui sequer um superporta-aviões, muito menos nove desses grupos de combate naval, acompanhados por cruzadores e escoltados por submarinos nucleares. A Rússia tem um porta-aviões moderno, o Almirante Kuznetsov, mas ele tem cerca de metade do tamanho do equivalente americano e tantos problemas operacionais que raramente deixa o porto. A Marinha da antiga União Soviética chegou a fazer estudos preliminares sobre um superporta-aviões, mas abandonou o projeto em 1992. Inglaterra e França têm somente porta-aviões, poucos e pequenos. E a China desistiu de construir um no ano passado.
Além disso, qualquer tentativa de
construir uma frota naval que ameaçasse o Pentágono seria inútil, pois, em caso
de conflito, acabaria afundada nos primeiros cinco minutos pelos submarinos de
combate americanos. Sabendo disso, todos os outros países cederam aos Estados
Unidos o domínio dos mares, motivo pelo qual as forças navais americanas podem
navegar por onde bem entenderem. A corrida armamentista entre as marinhas de
guerra, que durante séculos foi pedra fundamental na estratégia das grandes
potências, é coisa do passado.
O poderio aéreo americano é igualmente
incomparável. Os Estados Unidos têm mais caças e bombardeiros avançados do que
todos os outros países do mundo juntos. Têm ainda três tipos de aviões
"invisíveis" (os bombardeiros B-1 e B-2 e os caças F-117), além de
outros dois modelos de caça, o F-22 e o F-35, esperando verba para entrar na
linha de produção. No resto do mundo, nenhuma nação possui um único caça
invisível. Alguns poucos países têm uma pequena quantidade de bombardeiros
pesados. Mas os Estados Unidos têm esquadrilhas inteiras compostas dessas
aeronaves de combate. Graças à frota de aviões de abastecimento, os
bombardeiros americanos podem operar em qualquer lugar do mundo. Nenhuma nação
tem algo que se compare ao avião-radar AWAC, que colhe imagens detalhadas do
espaço aéreo em áreas conflagradas, ou ao novíssimo JSTARS, que rastreia o
solo.
Nenhuma nação tem mísseis e bombas
inteligentes com a mesma qualidade, nem na mesma quantidade, que os Estados
Unidos. Uma demonstração dessa superioridade foi dada no mês passado, durante a
segunda tentativa de assassinar Saddam Hussein. Passaram-se apenas doze minutos
entre o momento em que um bombardeiro B-1 recebeu as coordenadas para atacar e
o momento em que ele disparou quatro bombas inteligentes, programadas para cair
a apenas 15 metros de distância uma da outra, com uma diferença de segundos.
Todas acertaram os alvos.
A supremacia aérea americana é tanta
que os adversários nem ousam levantar vôo. A Sérvia manteve seus aviões em
terra durante o conflito de Kosovo, em 1999. Na guerra contra o Iraque, nenhum
caça iraquiano saiu do solo para enfrentar o ataque dos Estados Unidos. Todos
os governos do mundo sabem que, se tentarem enviar um único caça contra os
americanos, seus aviões serão reduzidos a cacos antes mesmo de recolherem os
trens de aterrissagem. A corrida armamentista aérea, tão relevante nos últimos
cinqüenta anos, acabou.
As forças terrestres americanas têm um
adversário em potencial – a China, com seu grande Exército. Mas nada que
signifique que a corrida armamentista em terra também não tenha acabado. Os
Estados Unidos dispõem agora de 9.000 tanques M1 Abrams, a maior força blindada
do mundo. Os canhões e o sistema de controle de artilharia do Abrams são tão
extraordinariamente precisos que, em combate, destroem um tanque inimigo com um
único disparo. Nenhuma nação produz nem planeja produzir no momento um
equipamento dessa magnitude. Todas sabem que seria um gasto inútil. Mesmo que
tivessem tanques mais avançados, os Estados Unidos os destruiriam pelo ar.
A supremacia em matéria de eletrônica
também é enorme. Na guerra contra o Iraque, grande parte dos alvos foi
"marcada" com o uso de aviões não tripulados, pilotados por controle
remoto, como o Global Hawk – que voa a 18.000 metros, muito acima do raio de
ação das baterias antiaéreas. Além disso, os sensores do Global Hawk são tão
sofisticados e seu equipamento de comunicação é tão avançado que deve levar uma
década até que outro país desenvolva um equipamento similar – e, até lá, os
Estados Unidos terão aviões muito superiores nos campos de batalha.
Segundo a revista do The New York
Times informou recentemente, os Estados Unidos estão desenvolvendo um
modelo de caça não tripulado, operado por controle remoto e quase impossível de
ser derrubado, a um preço razoavelmente acessível. Também estão criando
helicópteros não tripulados para ser despachados ao campo de batalha antes das
tropas. Nenhum outro país chega perto do avanço tecnológico e do controle de
dados desses armamentos. Durante anos, o Pentágono terá o monopólio em matéria
de aviões de combate não tripulados. A corrida armamentista eletrônica deve ter
algum tipo de continuidade porque desenvolver tecnologia nessa área é muito
mais barato do que construir navios ou aviões. Mas os Estados Unidos estão tão
à frente que dificilmente serão destronados.
Além disso, os Estados Unidos detêm uma
esmagadora liderança no uso militar do espaço. O comando militar americano não
só utiliza mais e melhores satélites que o resto do mundo combinado como as
forças dos EUA começam a receber informações via satélite em larga escala. A
importância desses sistemas na conquista-relâmpago do Iraque ainda está por ser
reconhecida. A liderança americana nesse setor só irá crescer, pois a Força
Aérea dispõe hoje do segundo maior orçamento espacial do mundo, perdendo apenas
para o da Nasa.
Toda essa vasta supremacia militar foi
obtida, em parte, por um motivo: dinheiro. No ano passado, os gastos militares
americanos excederam os de todos os outros membros da Otan, da Rússia, da
China, do Japão, do Iraque e da Coréia do Norte combinados, de acordo com o
Centro de Informação de Defesa, um grupo de estudos independente. É mais uma
área para a qual todas as nações devem se curvar à superioridade dos Estados
Unidos, pois nenhum outro governo teria condições de chegar perto.
Essa vantagem disparada tem sido
criticada como excessiva, mas traz efeitos positivos. Os gastos militares
globais chegaram ao auge em 1985 – na época, o mundo gastava 1,3 trilhão de
dólares. Desde então, esse valor vem declinando e chegou a 840 bilhões em 2002.
Isso significa que houve uma queda de quase meio trilhão de dólares no total do
que se gasta no mundo a cada ano com armas. Um sinal de que as outras nações
admitem que a corrida armamentista está acabada.
A preeminência militar americana é
reforçada pelo efetivo engajamento em operações de guerra. Com ou sem razão, os
Estados Unidos entram em combate com freqüência. Cada batalha torna-se uma
oportunidade de aprendizado para tropas e um teste para as novas tecnologias.
Nenhum outro contingente militar tem a experiência dos americanos. Ainda há que
mencionar o excelente preparo – em treinamento e motivação – de seus quadros.
Essa vantagem competitiva aumentou quando os Estados Unidos começaram a colocar
mulheres em postos de combate, o que dobrou o número de talentos em potencial.
A vantagem americana não confere
invencibilidade às suas forças: o caro helicóptero de ataque Apache, por
exemplo, saiu-se mal quando confrontado com armas de pequeno porte no Iraque.
Mais importante ainda, a força esmagadora dificilmente garante que os Estados
Unidos consigam impor tudo o que querem nas pendências mundiais. O uso da força
é apenas um aspecto das relações internacionais. A experiência tem demonstrado
que o poderio militar é útil na resolução de problemas militares, não das questões
políticas.
A Coréia do Norte defronta agora com o
mais poderoso aparato militar jamais existente. Apesar disso, pode ter
condições de desafiar os Estados Unidos em razão da chantagem nuclear. No
momento em que a corrida armamentista global chega ao fim com os Estados Unidos
tão disparados na frente que não têm nenhum rival, o cenário resultante pode
ser um mundo em que Washington tenha um poder historicamente sem precedentes –
mas muitas vezes não possa utilizá-lo.
2 comentários:
Esse texto ficou muito bom..
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