Gastos militares do Brasil estão muito abaixo dos demais BRICs
Se no lado econômico os BRICs - Brasil, Rússia, Índia e China - têm
semelhanças e potenciais de crescimento comparáveis, quando o assunto é
defesa o Brasil tem "outra realidade"
A avaliação de militares e especialistas ouvidos pela BBC Brasil é que
os investimentos militares estão abaixo do necessário para um país com
o tamanho e com as pretensões do Brasil.
"Não precisamos nos
tornar uma potência militar, capazes de conquistas. É apenas uma
questão de termos forças compatíveis com a ambição estratégica do
país", diz o general Augusto Heleno Ribeiro, que chefiou as tropas
brasileiras em missão no Haiti.
Os historiadores costumam
classificar o Brasil como um país de caráter pacifista, ou seja, que
evita utilizar recursos militares em situações de conflito com outros
países.
O Brasil, por exemplo, está vetado pela constituição de
produzir armas nucleares. Já os outros três emergentes do grupo têm
esse tipo de arma.
"Não temos a necessidade, felizmente, de ter
o aparato que esses países possuem. Mas ainda assim estamos longe do
ideal", diz o general Heleno.
O pesquisador Thomas Costa, da
National Defense University, em Washington, diz que o país não precisa
necessariamente abrir mão da característica pacifista, mas que essa
cultura precisará ser "repensada", se o país quiser atingir certos
objetivos.
"O fato de um país ter uma força bem estrutura não
significa que terá de usá-la. Mas a partir do momento em que o Brasil
demonstra interesse em participar de questões relativas à segurança
mundial, terá de estar preparado para o custo", diz Costa.
Influência
O
Brasil vem pleiteando uma vaga permanente no Conselho de Segurança da
ONU, demanda que se tornou uma das marcas da diplomacia atual.
Ainda
que a reforma no Conselho fosse aprovada - o que os especialistas acham
improvável, mesmo nos próximos dez anos - a avaliação é de que o país,
hoje, não estaria preparado para assumir essa função.
"Se
entrarmos no Conselho de Segurança com as forças militares que temos
hoje, seríamos apenas enfeite", diz o especialista em Ciências
Políticas e consultor da MCM, Amaury de Souza.
Segundo ele, a
diversificação dos pólos de poder, uma tendência para os próximos anos,
exige que países de média influência, como o Brasil, tenham um arsenal
militar relativamente maior. "Um mundo multipolar é também um mundo
mais instável", diz.
Mesmo fora do Conselho de Segurança, o
Brasil vem demonstrando interesse em ampliar sua participação em
questões internacionais. Recentemente, o Itamaraty tentou contribuir na
intermediação entre palestinos e israelentes.
"É o tipo de
questão da qual só participa quem tem algum poderio militar. A
influência brasileira cresceu muito, mas ainda está restrita a assuntos
econômicos", diz Souza.
Diretrizes
Em
novembro passado, o governo brasileiro divulgou sua Estratégia Nacional
de Defesa, um conjunto de diretrizes que pretende reformular a questão
militar no país.
Mesmo vago, o plano foi bem recebido por
especialistas. O texto de quase cem páginas prevê a readequação das
três forças armadas de acordo com os "interesses estratégicos" do país.
O
texto traça os objetivos de médio e longo prazo para o setor, como por
exemplo, a modernização das três forças e o incentivo à indústria
bélica nacional.
Falta agora o governo discutir como essas
tarefas serão colocadas em prática. O plano não fala, por exemplo, de
orçamento e prioridades nos gastos - principal alvo de críticas por
especialistas.
O Brasil é 12º país que mais investe em defesa no
mundo, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de
Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês). É também o campeão na América
Latina. A previsão, para este ano, é de um gasto de R$ 50 bilhões.
Desse
montante, 80% é destinado ao pagamento de salários e pensões. Outros
12% vão para despesas administrativas (custeio) e 8% para investimentos.
"Esse desequilíbrio compromete a modernização das forças armadas", diz Souza.
Tabu
Além
da questão orçamentária, os especialistas apontam ainda outro fator que
pode atrapalhar o desenvolvimento militar brasileiro: a memória da
ditadura.
"Em diversos setores da sociedade, sobretudo nas
camadas decisórias, existe uma forte rejeição aos militares", diz o
historiador Carlos Fico, da UFRJ. Segundo ele, essa rejeição "não
permite nem que o assunto da defesa seja debatido".
Na avaliação
do professor, os militares, por sua vez, "são prisioneiros de velhos
hábitos corporativistas", o que também prejudica o debate.
"O país vai ter de amadurecer para esse debate. As forças armadas precisam acompanhar a maior proeminência do país", diz.
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